domingo, 18 de outubro de 2009

O Passeio









366 dias de ter completado 17 anos lá estava Cadú, abrindo os olhos para os raios de sol da manhã e do seu primeiro dia como um cidadão maior de idade. Era um grande dia e o começo de uma nova era na sua vida. A era motorizada!

Mal colocou os pés para fora da cama e o interfone no criado-mudo já tocou. Do outro lado, a voz de outro criado:

- “Senhor Carlos Eduardo, o senhor está disposto para o almoço? Ele já está na mesa.”

- Obrigado Samuel, já vou descer.

Vestiu as sandálias, espreguiçou aproveitando o braço esticado para alcançar o seu róbe, pendurado no mancebo a sua direita. Deu uma respirada longa e funda, deixando entrar por suas narinas o cheiro apetitoso do carbonara que esfumaçava repousando na sua cama de porcelana no andar de embaixo.

Mas não foi bem fome o que este apetitoso cheiro trouxe. Mas sim, uma feliz ansiedade. O almoço posto a mesa o lembrou de outra maravilha italiana que também fica estacionada na sua casa: a coleção de carros esportivos do seu pai. Ferraris, Maseratis, Alfa Romeos, todos encerados e com suas centenas de cavalos prontos para relincharem debaixo dos seus capôs de curvas elegantes.

A alegria que não cabia no seu peito saiu pela sua boca, atravessou a cidade zunindo entre cabos e postes e chegou aos ouvidos de Letícia – “Lelê” para os íntimos que compartilham a mesma letra na categora de “ryco, com Y” e “Letícia Siqueira-Bittencourt” aos demais mortais que costumam olhar etiquetas de preço.

“- Ai Cadú, que legaaal!”

Desligou o telefone e forrou sua cama de uma colcha nova, feita inteira de roupas recém-tiradas do armário e ainda com seus cabides. Não sabia o que vestir para este grande dia. Que ansiedade, que emoção! Externou sua alegria com palmas e pulinhos, seguidos de gritinhos emoldurados por sorrisos. Combinou tons de rosa-claro, salmão e rosa-choque e deu dois passes a frente para receber a borrifada de perfume lançada ao ar. Duas horas depois de se arrumar depressa, seguiu para o lugar combinado.

Eram 10 e meia da manhã de um sábado com sol de escorrer maquiagem e lá estava Lelê, linda, loira e impaciente. 5 minutos e nada do Cadú. Ela ali, sozinha na calçada com o peso do seu corpo apoiado no calcanhar esquerdo. Sentia-se como aquelas pessoas que via da janela escurecida do carro do seu pai. Paradas, esperando a vida passar e o cheque cair. Tudo aquilo era muito estranho, e raro. Mesmo quando em céu aberto, o céu que via tinha no horizonte os muros de um clube, ou o azul que passava pelo domo de vidro de um shopping center.

Pois hoje não. Hoje ela ia conhecer o mundo real, o mundo verdadeiro onde pessoas vão para onde bem entendem. Ir para onde quiser, quando quiser. E tudo isso com o seu amor. Melhor que isso é só seguindo para a Raposo Tavares ao final da noite.

O gostoso devaneio foi logo cortado pela imagem que via no horizonte, trêmula pelo calor que evaporava do asfalto de fritar ovo. Cadú e sua Mercedez, mas que união feliz! Lá vinha ela, cor de vinho. Vinho como o conteúdo das garrafas que iriam dividir, brindando de braços entrelaçados como dois cisnes num lago que desenham um coração com seus pescoços.

Não se conteve e balançou seus braços, sacudindo como chocalhos seus braceletes prateados. Brilhando, a Mercedez encostou na calçada e abriu sua porta. O motorista de uniforme azul-claro não deixou de esconder seu espanto com a passageira que subia as escadinhas do seu ônibus. Depois de tentar passar seu cartão e inserir a senha, pagou o deboxante cobrador e cruzou a catraca, radiante.

Cadú sorria e esperava por sua companheira, com um lugar reservado no banco do carona feito de plástico duro e pichado com liquid paper. Deram as mãos e entrelaçaram os dedos, descobrindo juntos – entre muitas coisas – sua primeira viagem de busão.

6 comentários:

aron disse...

HahahahahahahahahahahahahahahahahaahahahahahahahahahhahahahahahahahahahauhhauHAUAhuahuaha Genial meu merda!!
POrra! huAhuahuauauh mt bom!! :D
Q vibe!!! Parabens coco!!!

Debi Gorgulho disse...

Só achei incrível, mais uma vez! Gosto incrivelmente dos seus textos Fuba. Incrivelmente.

Postei um novo no Borrifando! Vcs me inspiraram!

Roberto Kamei disse...

KKKKKKKKK.....
muito bom, Lattes. Como sempre.
Gosto do timing dos seus textos!
abs,

Unknown disse...

Muito bom Fubis!! Final totalmente inesperado!! Hahaha!!

Bjos!!

Tatiana disse...

Fubim!!!
Ótimo como sempre!!
Aproveitando, o último texto do drink também tava incrívell!!
Continuarei esperando pelos próximos ;)
Bjobjo

Carina disse...

hahahahahahahahahaha

animal esse texto! gostei mt fubas!

bjo!