domingo, 13 de dezembro de 2009

A Conquista




















Já era tarde no domingo quando a plaquinha do MSN subiu e anunciou uma substituição na minha caixa de e-mail.

A mensagem que li em seguida foi o relato de algo ocorrido também já tarde, em um sábado qualquer. O autor preferiu o anonimato. O campineiro aqui preferiu a inspiração - a maior lição dessa história.

Com vocês, copiado e colado, o dito e-mail:



"Diz o sábio chinês que 'uma longa jornada começa com um único passo'.

Ela não era chinesa, mas tinha um par de olhos meio puxadinhos que merecia um 'muito obrigado' ao bisavô que primeiro pisou do seu navio no porto de Santos.

De uma festa sem grandes expectativas, fruto de um convite feito num telefonema atendido no último toque antes do 'ligação perdida', estava a minha frente a mulher mais escultural que meus olhos ocidentais já tinham visto.

O orgulho de ser brasileiro enchia meu peito enquanto acompanhava as suaves curvas de uma miscigenação bem feita, olhando cada detalhe mais discreto que um elefante em loja de louça ou que um rapaz solteiro de palavras já soltas pela cerveja.

E o mesmo ar que inflava meu peito de orgulho tupiniquim chegou como uma frente fria no estômago. Lá estava ela, encostada no bar, sem uma amiga, acompanhada somente de sua magnética gostosura.

Uma olhada discreta, de canto de olho. Indecifrável. Fui notado, pego balançando a bandeira do meu interesse. A hora era agora. Cada bebericada acompanhava a respiração, como que a buscar coragem a cada gole. A bebida? Desejo e insegurança, shaken, not stirred.

Desafiado pelo seu olhar de canto, deixei o copo no balcão e esbocei um passo. Sensação de cobrança de pênalti. De estádio cheio gritando em coro pelo meu nome. Incentivando entre rojões um chute forte e rasteiro, indefensável no canto direito e iluminado entre milhares de flashes cintilando da torcida. Um oi e um sorriso de volta. Um único –

- Boa ela né? Vai lá falar com ela cara! – como o companheiro de time, o amigo bêbado aparece para encorajar.

As pernas estancaram na marca do pênalti.

- Vai lá, to falando. Tá na sua.

E fui. Lado a lado no balcão do bar, um oi sai engasgado. Um meio sorriso, simpático mas curto, é dado em resposta, seguido por um diálogo enferrujado como uma Brasília de ferro-velho. Nome, profissão, o curriculum vitae de uma entrevista para a vaga de beijo ou mais da noite.

- Vou ao banheiro.

E assim, seca, ela se foi. Uma frase que selou minha derrota. Minha tristeza. Meu fim.

- Eai meninãão! – O bêbado reaparece, com o rosto vermelho como a marca do uisque que fazia titilar os cubos de gelo do seu copo largo e baixo.

- Ela foi embora.

- Como assim? – o sorriso deu lugar a uma série convicção. E continuou- Eu conheço ela cara. Amiga da minha namorada, trabalham juntas. E quer você. Perguntou de você pra Claudinha na hora que você pisou, seu puto.

- Sério? – Disse isso com um sério sorriso bobo.

- É caramba! Larga de ser cagão e vai logo. É só ir lá pronto, sem erro.

E saiu rindo de minha falta de atitude, como se nunca tivesse passado por isso antes. Com a modéstia de quem sabe que no dos outros é refresco.

Ao longe, lá estava o banheiro, com sua porta vai-vem e sua placa com um bonequinho de saia triangular. Não respirei fundo ou virei uma dose, tudo que havia para entornar goela adentro e fazer uma careta era meu orgulho. Minha auto-estima, minha certeza que vou sim conseguir o que queria. E agora.

Um corredor estreito levava até a porta, de onde mulheres em pares (sempre em pares) saíam de maquiagem e fofocas retocadas. E de lá ela saiu, acompanhada de tudo que deixa um homem a pulsar de desejo: cabelos, decote, olhos e charme, muito charme.

Ela me viu e caminhou – ou desfilou – pelo corredor. Dei um passo, um pequeno passo a frente, bloqueando seu caminho, sem descolar os lábios mas dizendo tudo com um meio sorriso, ridículo quando refletido num espelho. Sozinha, a mão direita enlaçou sua cintura.

Com um tenro beijo de despedida, ela bate a porta do carro e sobe um lance de escadas, carregando seus sapatos na ponta das dedos. Vira-se para trás, sorri, e desaparece entre o jardim da entrada do seu prédio. O mesmo prédio que estacionaria muitas vezes depois. Para um cinema, para uma viagem, para um passeio de elevador até o 12o andar.

Longe dali, um bêbado sonolento atendeu o telefonema no último toque antes do 'ligação perdida'

- Cara, valeu pela dica. Ela é sensacional! Linda, engraçada, gente boa… Obrigado, Muito -

- Eu nunca tinha visto ela na minha vida. – O seu sorriso saía sonoro pelo celular.

– Nem conhecia! Isso é pra você largar de ser besta, pra tentar, pra aprender a dar pelo menos um passo, sempre.


Eu aprendi."

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Pouco Mais de 500 Caracteres Sobre Um Filme
















O autor adverte: é bom você ter visto o filme antes. ; )


Quando mais de 3 pessoas te sugerem ver um filme “por que ele é a sua cara” ou “certeza que você vai curtir, cara” é por que tem coisa. E o 500 Dias Com Ela tem. Foi 1 uma hora e meia com Fábio Lattes que me valeram sentar para escrever estas singelas palavras de semelhança. Isso mesmo, semelhança. Isto não é uma resenha, uma crítica de cinema. Me falta muito feijão e Fellini para ser uma Renatinha ou um Chammezito para analisar um filme com catiguria. São simples paralelos que notei e tracei em verdana 11.

Começando pelo óbvio: o personagem principal é um redator. Ok, redator de cartões de presente, desses que por aqui os do Garfield imperam. Mas redator. E segundo, a mais óbvia semelhança: o filme fala de relacionamentos. Tema que quase não gosto e que quase que esta tonta ironia correu o risco de ser apagada.

A primeira coisa que me faz pensar é o quanto os problemas dos jovens de seus 20 em diante são comuns, seja lá onde do mundo ele mora. Da rotina do trabalho, o conclave conselheiro dos amigos, aos dias azuis e cinzas de um relacionamento, é tudo muito parecido. A facilidade que nos identificamos com o desenrolar do romance entre os dois é o ponto chave do quanto ele nos envolve.

O fato é que se sentir como o personagem é a premissa de toda boa história. Mas quando ele tira os empoeirados rolos de filmes dos seus términos e começos e projeta filmes no cine-nostalgia do seu cérebro, o poder de identificação triplica.

E é assim com esse filme. Você se vê nele, e não precisa ser um redator com experiências passadas nas costas. Principalmente na vulnerabilidade do personagem principal, tão entregue aos caprichos de uma pequena com vestidinhos meigos. Naquela tonta vulnerabilidade que o amor provoca. Você se vê como aquele mané, capacho, bobo e com o seu sobrenome em julho de 2007.

O filme trabalha com sensações que todos nos passamos e degustamos, sejam doces ou amargas.

Quando você vê que o relacionamento está indo para o saco e não há nada o que fazer, há não ser pedir panquecas e esperar pela cobertura de lágrimas.

Quando você substitui o som pelo tato que também saem dos lábios, beijando cada centímetro de um corpo que você deseja por dentro e por fora. Nos seus 500 dias, depois dessa noite nosso herói dança pelas ruas num musical. Se rodado no Brasil, ele faria um gol aos 45, no estádio lotado, explodindo rojões e disparando pontilhados de flashes para uma torcida ensandecida.

O sentimento é o mesmo, só muda o cenário.

Os 500 dias encerram com a mensagem certa, longe do final que encaminha o casal para um anúncio de margarina. Uma esperança pé no chão, que mostra que o amor verdadeiro é tudo nessa vida, menos simples.

Estamos longe de um final feliz, mas sempre perto de ótimos começos.