domingo, 13 de dezembro de 2009

A Conquista




















Já era tarde no domingo quando a plaquinha do MSN subiu e anunciou uma substituição na minha caixa de e-mail.

A mensagem que li em seguida foi o relato de algo ocorrido também já tarde, em um sábado qualquer. O autor preferiu o anonimato. O campineiro aqui preferiu a inspiração - a maior lição dessa história.

Com vocês, copiado e colado, o dito e-mail:



"Diz o sábio chinês que 'uma longa jornada começa com um único passo'.

Ela não era chinesa, mas tinha um par de olhos meio puxadinhos que merecia um 'muito obrigado' ao bisavô que primeiro pisou do seu navio no porto de Santos.

De uma festa sem grandes expectativas, fruto de um convite feito num telefonema atendido no último toque antes do 'ligação perdida', estava a minha frente a mulher mais escultural que meus olhos ocidentais já tinham visto.

O orgulho de ser brasileiro enchia meu peito enquanto acompanhava as suaves curvas de uma miscigenação bem feita, olhando cada detalhe mais discreto que um elefante em loja de louça ou que um rapaz solteiro de palavras já soltas pela cerveja.

E o mesmo ar que inflava meu peito de orgulho tupiniquim chegou como uma frente fria no estômago. Lá estava ela, encostada no bar, sem uma amiga, acompanhada somente de sua magnética gostosura.

Uma olhada discreta, de canto de olho. Indecifrável. Fui notado, pego balançando a bandeira do meu interesse. A hora era agora. Cada bebericada acompanhava a respiração, como que a buscar coragem a cada gole. A bebida? Desejo e insegurança, shaken, not stirred.

Desafiado pelo seu olhar de canto, deixei o copo no balcão e esbocei um passo. Sensação de cobrança de pênalti. De estádio cheio gritando em coro pelo meu nome. Incentivando entre rojões um chute forte e rasteiro, indefensável no canto direito e iluminado entre milhares de flashes cintilando da torcida. Um oi e um sorriso de volta. Um único –

- Boa ela né? Vai lá falar com ela cara! – como o companheiro de time, o amigo bêbado aparece para encorajar.

As pernas estancaram na marca do pênalti.

- Vai lá, to falando. Tá na sua.

E fui. Lado a lado no balcão do bar, um oi sai engasgado. Um meio sorriso, simpático mas curto, é dado em resposta, seguido por um diálogo enferrujado como uma Brasília de ferro-velho. Nome, profissão, o curriculum vitae de uma entrevista para a vaga de beijo ou mais da noite.

- Vou ao banheiro.

E assim, seca, ela se foi. Uma frase que selou minha derrota. Minha tristeza. Meu fim.

- Eai meninãão! – O bêbado reaparece, com o rosto vermelho como a marca do uisque que fazia titilar os cubos de gelo do seu copo largo e baixo.

- Ela foi embora.

- Como assim? – o sorriso deu lugar a uma série convicção. E continuou- Eu conheço ela cara. Amiga da minha namorada, trabalham juntas. E quer você. Perguntou de você pra Claudinha na hora que você pisou, seu puto.

- Sério? – Disse isso com um sério sorriso bobo.

- É caramba! Larga de ser cagão e vai logo. É só ir lá pronto, sem erro.

E saiu rindo de minha falta de atitude, como se nunca tivesse passado por isso antes. Com a modéstia de quem sabe que no dos outros é refresco.

Ao longe, lá estava o banheiro, com sua porta vai-vem e sua placa com um bonequinho de saia triangular. Não respirei fundo ou virei uma dose, tudo que havia para entornar goela adentro e fazer uma careta era meu orgulho. Minha auto-estima, minha certeza que vou sim conseguir o que queria. E agora.

Um corredor estreito levava até a porta, de onde mulheres em pares (sempre em pares) saíam de maquiagem e fofocas retocadas. E de lá ela saiu, acompanhada de tudo que deixa um homem a pulsar de desejo: cabelos, decote, olhos e charme, muito charme.

Ela me viu e caminhou – ou desfilou – pelo corredor. Dei um passo, um pequeno passo a frente, bloqueando seu caminho, sem descolar os lábios mas dizendo tudo com um meio sorriso, ridículo quando refletido num espelho. Sozinha, a mão direita enlaçou sua cintura.

Com um tenro beijo de despedida, ela bate a porta do carro e sobe um lance de escadas, carregando seus sapatos na ponta das dedos. Vira-se para trás, sorri, e desaparece entre o jardim da entrada do seu prédio. O mesmo prédio que estacionaria muitas vezes depois. Para um cinema, para uma viagem, para um passeio de elevador até o 12o andar.

Longe dali, um bêbado sonolento atendeu o telefonema no último toque antes do 'ligação perdida'

- Cara, valeu pela dica. Ela é sensacional! Linda, engraçada, gente boa… Obrigado, Muito -

- Eu nunca tinha visto ela na minha vida. – O seu sorriso saía sonoro pelo celular.

– Nem conhecia! Isso é pra você largar de ser besta, pra tentar, pra aprender a dar pelo menos um passo, sempre.


Eu aprendi."

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Pouco Mais de 500 Caracteres Sobre Um Filme
















O autor adverte: é bom você ter visto o filme antes. ; )


Quando mais de 3 pessoas te sugerem ver um filme “por que ele é a sua cara” ou “certeza que você vai curtir, cara” é por que tem coisa. E o 500 Dias Com Ela tem. Foi 1 uma hora e meia com Fábio Lattes que me valeram sentar para escrever estas singelas palavras de semelhança. Isso mesmo, semelhança. Isto não é uma resenha, uma crítica de cinema. Me falta muito feijão e Fellini para ser uma Renatinha ou um Chammezito para analisar um filme com catiguria. São simples paralelos que notei e tracei em verdana 11.

Começando pelo óbvio: o personagem principal é um redator. Ok, redator de cartões de presente, desses que por aqui os do Garfield imperam. Mas redator. E segundo, a mais óbvia semelhança: o filme fala de relacionamentos. Tema que quase não gosto e que quase que esta tonta ironia correu o risco de ser apagada.

A primeira coisa que me faz pensar é o quanto os problemas dos jovens de seus 20 em diante são comuns, seja lá onde do mundo ele mora. Da rotina do trabalho, o conclave conselheiro dos amigos, aos dias azuis e cinzas de um relacionamento, é tudo muito parecido. A facilidade que nos identificamos com o desenrolar do romance entre os dois é o ponto chave do quanto ele nos envolve.

O fato é que se sentir como o personagem é a premissa de toda boa história. Mas quando ele tira os empoeirados rolos de filmes dos seus términos e começos e projeta filmes no cine-nostalgia do seu cérebro, o poder de identificação triplica.

E é assim com esse filme. Você se vê nele, e não precisa ser um redator com experiências passadas nas costas. Principalmente na vulnerabilidade do personagem principal, tão entregue aos caprichos de uma pequena com vestidinhos meigos. Naquela tonta vulnerabilidade que o amor provoca. Você se vê como aquele mané, capacho, bobo e com o seu sobrenome em julho de 2007.

O filme trabalha com sensações que todos nos passamos e degustamos, sejam doces ou amargas.

Quando você vê que o relacionamento está indo para o saco e não há nada o que fazer, há não ser pedir panquecas e esperar pela cobertura de lágrimas.

Quando você substitui o som pelo tato que também saem dos lábios, beijando cada centímetro de um corpo que você deseja por dentro e por fora. Nos seus 500 dias, depois dessa noite nosso herói dança pelas ruas num musical. Se rodado no Brasil, ele faria um gol aos 45, no estádio lotado, explodindo rojões e disparando pontilhados de flashes para uma torcida ensandecida.

O sentimento é o mesmo, só muda o cenário.

Os 500 dias encerram com a mensagem certa, longe do final que encaminha o casal para um anúncio de margarina. Uma esperança pé no chão, que mostra que o amor verdadeiro é tudo nessa vida, menos simples.

Estamos longe de um final feliz, mas sempre perto de ótimos começos.

domingo, 29 de novembro de 2009

Amizade




















Nos idos de 1990 você cantou em falsete - que eu sei - a seguinte canção: “Amiiiiigo é coisa pra se guardaaar, no lado esquerdo do peeeeito”.

Terminado o coral com o sinal de gralha eletrônica que anunciou o recreio, você e o coleguinha ao lado saíram em disparada para mais uma tarde correndo atrás de bolas de futebol e o galho mais alto da árvore. Pronto. Estava instaurado o primeiro caso de amizade nessa vida que dava seus primeiros passos, muito possivelmente calçando ki-chute. Independente do tênis ou se você era menina e gostava de bonecas, uma coisa é certa: a tia da sua escola acertou em cheio ao fazê-lo cantar este belo verso do Milton Nascimento.

Que graça teria essa vida sem amigos? A testemunha ocular dos seus momentos, melhores ou não. O ombro ao lado que sai junto na foto e confirma histórias para contar de cerveja no copo ou neto no colo. Um cúmplice na cola do colégio e na indicação para um emprego. Definições são muitas, mas nada resume melhor o valor de uma amizade do que a seguinte epifania cinematográfica, do filme Na Natureza Selvagem:

“Happiness only real when shared”.

Chame de instinto, de carência, de uma evolução do infantil medo de escuro, mas é de nossa índole querer ter alguém para compartilhar experiências nessa vida que parece ser eterna enquanto dura. Ou você realmente acha que premiações “com acompanhante e tudo pago” estão a toa por aí? São provas concretas, estampadas em cupons de sorteio pelo mundo afora. Levar um amigo na aventura é uma exigência tão clara quanto querer que o carro venha com volante.

E assim como o jeito para se manobrar numa baliza, homens e mulheres levam suas amizades de maneiras diferentes. Ao descascar a cebola e separar as camadas entre os sexos, encontramos disparidades entre a turma “dos cara” e as “meninas” (fato: mesmo que tenha 78 anos bem vividos, uma mulher sempre irá se referir às suas amigas como as “meninas”).

É uma diferença que vem de fábrica, junto com os cromossomos e a opção de ou usar sutiã ou ficar entre rouco e estridente quando chega a puberdade. E como um exemplar da metade que viveu a fase da voz estranha e das Playboys escondidas na gaveta das camisas de time, compartilho em parágrafos a seguinte opinião.

O homem nasce, cresce, simula que se reproduz e acha que vê a morte no fundo de um vaso sanitário, depois de um exagero de destilados em alguma festa open bar. E em todo esse processo, lá está ele, o seu amigo. O parceiro. (o termo “brother” veio mais tarde, com a chegada dos surfistas de final de semana aos círculos de amizade). O cara que te acompanhou na festa, conversou com a amiga exclusivamente “gente boa” para lhe dar tempo de tentar algo com o seu bem-querer. E por fim, lhe consolou sugerindo afogar as mágoas, fechando o ciclo ao te apresentar para a privada mais próxima.

Para o homem a amizade é uma instituição tão sagrada quanto a turma que ele almoça junto de domingo. E se o domingo tem data, o resto da semana tem outra: a cerveja com os amigos. Tão obrigatória quanto depilação íntima e felizmente muito menos dolorosa – coisa que somos mais meninas que muita mulher para suportar.

A mesa do bar é um divã de plástico amarelo. Fala-se sobre tudo, peitos são abertos entre rodadas e rodadas do gelado liquido dourado. As chances de aumento, os colegas de trabalho que pegariam com toda certeza do mundo. As atualidades do mundo, quem posou pelada – e se vale conferir. E por fim, as notícias do futebol, boêmia adentro.

Mulheres também se reúnem, claro. Armam happy hours e “girls night out” com sessões de roupa e maquiagem na casa de uma, sujando coqueleteiras e liquidificadores com mojitos e batidas perigosamente saborosas. Mas não com tanta frequência e, principalmente, não atribuindo tanto valor ao encontro quanto o homem.

E é aí que – penso eu – mora a principal diferença entre as amizades. Que fique bem claro: mulheres também tem suas irmãs, suas melhores amigas e parceiras de guerra. Mas não constroem o mesmo altar da amizade que os homens, com um São Beto ou um São Pedrão para ser devoto.

Um melhor amigo para o homem beira um estranho homossexualismo enrustido. Com tapas na bunda, socos no ombro e xingamentos à mãe entre um único aperto de mão. Chegam a declarar saudades. A darem bronca. Vivem um verdadeiro romance entre brothers – o chamado “bromance” definido no ótimo Eu Te Amo, Cara.

São sagrados. Condição que se estende às suas namoradas e senhoras. É fato: a namorada de um grande amigo desenvolve um pênis no momento que ele declara que por ela penduraria suas long necks. O amigo pode achar gostosa, atraente, chega a compartilhar essa informação. Mas a traição desse valioso pacto é uma atitude mais mal-vista que encoxar a mãe na fila da hóstia.

Está escrito na página 12 do “Manual do Melhor Amigo”: o homem que pegar a namorada do outro vestirá para a turma toda a mini saia rosa da hostilidade.

Outra ressalva: mulheres também respeitam o namorado alheio. Mas pela ausência do referido Altar Masculino à Amizade, são mais dispostas a esquecer essa condição quando o coração manda ou a carne estremece. O grande Chris Rock exemplificou isso muito bem com duas citações:

- “Puxa a namorada do meu amigo é sensacional. Bonita, gente fina... Quero achar alguém que nem ela!”
- “Nossa... O namorado da minha amiga é sensacional. Bonitão, gente fina... Quero ELE!”

Talvez seja a competitividade feminina, o fato de vestirem-se para outras mais que para agradar outros. Ou a ausência do assunto “futebol” para quebrar gelos e transpor barreiras entre o nome e o apelido. Mas mulheres primeiro se encaram como rivais, para depois tornarem-se colegas, e possivelmente, amigas.

Para um homem, do plantio à colheita a amizade parece ser mais fácil de dar algum fruto. Preferencialmente cítrico e verde, para ser cortado na tábua ao lado da churrasqueira.

O fato é que para saborear os doces e amargos desse doido drink chamado vida, a amizade tem sem dúvida a mesma importância que o amor. Por isso, homem ou mulher, o segredo é ter sempre borboletas no estômago e nos ouvidos, alguma música que goste.

Se não for aquela do Milton Nascimento, que seja outra. Algo como:

“I get by with a little help from my friends
I’m gonna try with a little help from my friends...”

domingo, 8 de novembro de 2009

Mulher Kriptonita










O cara é de aço. Tem olhos com laser que abrem buracos em paredes e uma visão raio-x para passar por roupas e conferir conjuntos de lingeries. Zunindo pelos ares, ele rasga céus de brigadeiro abrindo caminho entre granulados de nuvens. Salva o mundo como quem confirma presença numa reunião pelo outlook, e ainda faz tudo isso vestindo um colant azul e uma sunga vermelha por cima.

E mesmo assim, tão super que é, pode perder todos seus poderes com uma mísera pedra esverdeada lá do seu planeta. É deixar uma pedrinha dessas por perto que nosso heroí não voa, não ergue carros, não salva o dia se trocando em cabines telefônicas.

Pois é assim com homens. Não importa se é o mais sangue frio dos conquistadores modernos, que gerencia suas mulheres como um executivo administra um negócio, daqueles que demitem sem dó um pai de família. Um e-mail bonito ali, uma graça via SMS aqui, um telefonema com um gracejo acolá e pimba: usufruem uma lista de mulheres a espera de um telefone no dia seguinte, que provavelmente será substituído com uma ligação para a próxima conquista.

Recados de batom no espelho, surpresas com dias de planejamento, declarações sussuradas no ouvido... Nada e ninguém os balança ou induz a qualquer erro comum a um apaixonado. Ninguém, há não ser uma pessoa: a mulher kriptonita.

Todo homem, sem exceção, tem pelo menos uma mulher que mexe com seus sentidos e bambeia suas pernas quando aparecem, seja numa moldura de MSN ou ao vivo e a cores numa quinta a noite. Uma ex-namorada, uma paixão platônica, um caso mal resolvido que para todo sempre ficou marcado num coração que parece de pedra.

Elas são atemporais. Não importa se foi num baile de debutante, com ela indo embora da sua vida e da festa no carro de um primo mais velho. O tempo perde feio para a intensidade de um amor que um dia acertou em cheio. O reencontro pode acontecer 10, 20 anos depois. Será a mesma sensação quando ele se viu pela primeira vez completamente rendido por sua paixão.

A presença da sua kriponita faz um homem perder tudo que a vida amorosa até então lhe ensinou, todo seu encanto ensaiado, seu tão acertivo charme de sempre parecer que não se importa, com um sorriso misterioso. Tudo vai por água abaixo, como as lágrimas que um dia rolaram pelo seu rosto, justamente por ela.

A mulher kriptonita sabe do seu encanto. Do seu poder. Sabem – ou sentem - que tem total controle, como um marionete tem dos seus bonecos. E qualquer tentativa de disfarçar só deixa mais claro que ele se altera com sua presença. Aparecem para nos testar, para por a prova nosso poder de regeneração quanto a pior das dores – a de um coração partido.

Elas estão por aí, nas esquinas da vida. Como a última barreira, o último vilão que todo homem (super ou não) precisa vencer para mais uma vez ser o heroí do dia e salvar o mundo.

O seu mundo.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Dando Mole




















E então ela curtiu. Gamou. Gostou do que viu. Viu que ali dá samba. E agora?

Esqueça cenas de filmes, de trombadas que derrubam papéis e descarregam eletricidade ao se olharem e erguerem-se do chão em sincronia, com a papelada nos braços. Desconsidere aquela paixão súbita e arrebatadora, que te gagueja e congela sua barriga.

Deixe tudo isso para o roteiro da mesma comédia romântica que entra em cartaz todo mês nos cineminhas de domingo a noite, depois da pizza.

O foco aqui é outro, minha amiga. Me refiro àquela simples fagulha de interesse que ascende e te faz querer saber mais sobre aquele cara que deu oi com um sorriso tão simpático. Um estalo, uma faísca, um “opa, gostei!”.

Ela, a menina, a mulher quer. Ele, o homem, o menino, não sabe disso. Chegar e agarrar a presa como quem agarra um sapato numa liquidação é uma possibilidade, mas não acontece por um simples motivo: mulheres agarram com palavras, gestos, sinais de interesse.

Uma mulher consegue levar os lábios que deseja ao encontro dos seus sem que a outra boca perceba. É imperceptível. Conduz a orquestra do flerte e tira a música que bem entende, passando a sensação de quem tocou toda a peça foi ele, o mero violinista.

Homem acha que pega, que conquistou. Mas desde o início ela quem planejou todo o crime com requintes de sensualidade. Esperou a hora certa para passar em frente, a uma distância abordável. Beijou estalado, abraçando meio segundo a mais para deixar o seu perfume. Olhou de longe e sorriu para baixo, não deixando claro se sorriu para ele ou para seu copo.

Para o homem, chegar na mulher é como abrir uma porta, puxar uma cadeira e depois tirar para dançar. Mais que uma gentileza, é o seu papel. E desse acordo silencioso que nasceu a nobre a arte de dar mole, e com ela, um comum e inevitável problema: a comunicação inter-sexual.

Casais que não emplacam, ou que nem chegam a ter essa chance por um mero erro de interpretação. Mulheres de Vênus e homens de Marte sem um único curso rápido de inglês para transpor as barreiras.

Muitas vezes, o “dar mole” para uma mulher simplesmente não é lido como interesse pelo homem. Acontece com frequência: a mensagem de “ei, estou afim” não chega. Seja por incapacidade da emissora em transmiti-la ou do receptor de interpretá-la.

Homens conseguem compreender e interpretar somente 6 sinais básicos de interesse feminino:

1) Tocar os seus braços
2) Rir mais do que o comum
3) Olhar no olho
4) Olhar no lábio
5) Olhar no olho, de novo
6) Mexer no cabelo
Bônus: Morder o lábio inferior, de leve.

Qualquer outra tentativa da mulher em mostrar seu interesse que fuja desses 6 sinais básicos exigirá um receptor mais aguçado, ou mais esforçado. Coisa rara.

Desde que o homem constatou a rapidez e capacidade de conexões do cérebro feminino, ele simplesmente parou de querer interpretar todos os sinais de interesse. Não por preguiça, mas pelo bem de sua saúde emocional. Homens são normalmente mais objetivos, diretos – veja por amostra a “mulherada” que tem numa turma de engenheiros mecânicos. São curtos para as sutilezas da sedução feminina. Comportam um “sim”, um “não”, no máximo um “talvez”. E só.

A imprevisibilidade feminina é muito para nossos cromossomos.

Raros são os ousados exploradores que se aventuram na busca de compreender todos os sinais femininos de interesse e saem com vida (amorosa). Normalmente acabam se perdendo, vendo coisa onde não tem, beijando no máximo uma bochecha dada como prêmio de consolo.

Para um homem é mais seguro confiar só no que indica ser mesmo certo, garantido. Afinal, quanto mais sinais ele procurar, maiores são as chances dele encontrar o que não quer: uma recusa.

Uma mulher que sabe sacudir sua bandeirola do interesse na medida certa atrai quem faz seu samba e entra com ela na Sapucaí. Um olhar bem dado levanta da cadeira o mais tímido dos fãs de Star Wars. Injeta confiança. Destranca a porta e ajeita o capacho escrito “bem-vindo”.

No jogo da sedução, mulheres tem a faca e o queijo, daquele que tem uma casquinha por fora e é cremoso por dentro.

Aliás, cremoso não. Mole.

domingo, 18 de outubro de 2009

O Passeio









366 dias de ter completado 17 anos lá estava Cadú, abrindo os olhos para os raios de sol da manhã e do seu primeiro dia como um cidadão maior de idade. Era um grande dia e o começo de uma nova era na sua vida. A era motorizada!

Mal colocou os pés para fora da cama e o interfone no criado-mudo já tocou. Do outro lado, a voz de outro criado:

- “Senhor Carlos Eduardo, o senhor está disposto para o almoço? Ele já está na mesa.”

- Obrigado Samuel, já vou descer.

Vestiu as sandálias, espreguiçou aproveitando o braço esticado para alcançar o seu róbe, pendurado no mancebo a sua direita. Deu uma respirada longa e funda, deixando entrar por suas narinas o cheiro apetitoso do carbonara que esfumaçava repousando na sua cama de porcelana no andar de embaixo.

Mas não foi bem fome o que este apetitoso cheiro trouxe. Mas sim, uma feliz ansiedade. O almoço posto a mesa o lembrou de outra maravilha italiana que também fica estacionada na sua casa: a coleção de carros esportivos do seu pai. Ferraris, Maseratis, Alfa Romeos, todos encerados e com suas centenas de cavalos prontos para relincharem debaixo dos seus capôs de curvas elegantes.

A alegria que não cabia no seu peito saiu pela sua boca, atravessou a cidade zunindo entre cabos e postes e chegou aos ouvidos de Letícia – “Lelê” para os íntimos que compartilham a mesma letra na categora de “ryco, com Y” e “Letícia Siqueira-Bittencourt” aos demais mortais que costumam olhar etiquetas de preço.

“- Ai Cadú, que legaaal!”

Desligou o telefone e forrou sua cama de uma colcha nova, feita inteira de roupas recém-tiradas do armário e ainda com seus cabides. Não sabia o que vestir para este grande dia. Que ansiedade, que emoção! Externou sua alegria com palmas e pulinhos, seguidos de gritinhos emoldurados por sorrisos. Combinou tons de rosa-claro, salmão e rosa-choque e deu dois passes a frente para receber a borrifada de perfume lançada ao ar. Duas horas depois de se arrumar depressa, seguiu para o lugar combinado.

Eram 10 e meia da manhã de um sábado com sol de escorrer maquiagem e lá estava Lelê, linda, loira e impaciente. 5 minutos e nada do Cadú. Ela ali, sozinha na calçada com o peso do seu corpo apoiado no calcanhar esquerdo. Sentia-se como aquelas pessoas que via da janela escurecida do carro do seu pai. Paradas, esperando a vida passar e o cheque cair. Tudo aquilo era muito estranho, e raro. Mesmo quando em céu aberto, o céu que via tinha no horizonte os muros de um clube, ou o azul que passava pelo domo de vidro de um shopping center.

Pois hoje não. Hoje ela ia conhecer o mundo real, o mundo verdadeiro onde pessoas vão para onde bem entendem. Ir para onde quiser, quando quiser. E tudo isso com o seu amor. Melhor que isso é só seguindo para a Raposo Tavares ao final da noite.

O gostoso devaneio foi logo cortado pela imagem que via no horizonte, trêmula pelo calor que evaporava do asfalto de fritar ovo. Cadú e sua Mercedez, mas que união feliz! Lá vinha ela, cor de vinho. Vinho como o conteúdo das garrafas que iriam dividir, brindando de braços entrelaçados como dois cisnes num lago que desenham um coração com seus pescoços.

Não se conteve e balançou seus braços, sacudindo como chocalhos seus braceletes prateados. Brilhando, a Mercedez encostou na calçada e abriu sua porta. O motorista de uniforme azul-claro não deixou de esconder seu espanto com a passageira que subia as escadinhas do seu ônibus. Depois de tentar passar seu cartão e inserir a senha, pagou o deboxante cobrador e cruzou a catraca, radiante.

Cadú sorria e esperava por sua companheira, com um lugar reservado no banco do carona feito de plástico duro e pichado com liquid paper. Deram as mãos e entrelaçaram os dedos, descobrindo juntos – entre muitas coisas – sua primeira viagem de busão.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Mulheres
















Mulheres tem longos e intensos orgasmos, mas – por escolha ou não – podem resultar em nove meses de progressivo aumento da barriga e no desejo de comer a legítima pamonha de Piracicaba às 4 e meia da manhã.


Mulheres variam o humor entre brava “eu capo esse desgraçado” e triste “existem milhares de filhotinhos com frio e sozinhos no mundo” no mesmo dia, por uma semana ou mais. Mulheres crescem peitos, e depois os carregam pela vida afora amarrando-os junto ao corpo com elásticos apertados e incômodos.

Mulheres se apaixonam, têm tesão, desejo, vontade. Mas tem que esperar o convite para a dança, esperar que percebam os sinais que seu corpo entrega como óbvio, um “sim, pode vim, eu não mordo. Eu também quero”. Chegam a deixar de suportar o ardor de uma depilação para não apressar as coisas, como quem deixa a ponta achocolatada do Cornetto pro fim ou segurando-se por mera convenção de um mundo onde homem é “pegador” e mulher é “biscate”.

Transformam a palavra teimosia em plena convicção em seus argumentos, não arredando o pé mesmo quando sabem que estão muito perto de estarem equivocadas. Podem esquecer a chave de casa a cada saída, mas não esquecem o que aconteceu em maio de 2001 para vencer um argumento. Nunca.

Mulheres picham “o amor é importante, porra” sem nunca terem tocados numa lata de spray na vida. Degustam paixões pueris, platônicas, com plena consciência. Pelo cara do sétimo andar, pelo cachinhos que pega a mesma linha de ônibus.

E mais que tudo, acreditam no amor. Na existência da pessoa certa. No homem do seu anúncio de margarina, encantador como quem ela dedicou cartões coloridos com giz de cera no dia dos pais. Acreditam em instantes de taquicardia por estantes da livraria Cultura, na apresentação do amigo da amiga em um aniversário que foi de última hora, sem um lápis no olho ou com a calça de moletom do sábado a tarde.

- E ai, faltou alguma coisa?
- Ah um pouquinho... Quase tudo.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Palavrão










Não há nada mais redentor que um belo palavrão. É feio, sua mãe dizia. Mas ela mesma sabe o quanto é libertador e quase instintivo soltar um “PUTAQUEOPARIU, eu não acredito!” depois de uma notícia bombástica ou algo impressionante.

Pessoas que não falam nenhum, nadica de nada, zero palavrão sofrem. São quase rancorosas, como alguém que se deixa corroer por mágoas guardadas. Faz mal não encher a boca e carimbar aquele desgraçado que te fechou no trânsito ou o lazarento do patrão que joga golfe enquanto você trabalha no feriado, com um sonoro e silabado “FILHODAPUTA!”.

É quase como sexo. Quem diz que não faz, aposte seu Visa Vale carregado que sempre pensa. Até os mais improváveis soltam o seu palavrãozinho de quando em quando. Madre Teresa de Calcutá, certa vez descendo a escadaria de um hospital para leprosos, topou seu dedão, destroncando para cima uma de suas santas unhas.

Como uma erupção, ela soltou: “CARALHO que dor!”. Encabulada, tentou corrigir. “Er.. Desculpa filho, mais doeu demais”. Nâo adianta, eles estão lá, no topo da nossa lista de vocabulários. E são enviados para ponta da nossa língua sem nossa permissão.

E para palavrões o português brasileiro, seguindo o caminho de nossa música e culinária, é rico como um deputado que manda construir um castelo. Sempre tem o palavrão perfeito para a pessoa ou ocasião. Tome como exemplo alguém que queira questionar a sexualidade de um por esse vasto Brasil de Deus. No Nordeste, será baitola. No Sudeste, bixa. No Centro-Oeste, viado. No Sul, tchê. E por aí vai! Tem sempre o palavrãozinho certo para seu momento e intenção.

Mas não há prova maior da riqueza de nossos palavrões tupiniquins do que duas palavras. Nos EUA, a grande potência mundial, só existe uma: shit. Aqui não, amigo meu. Na terra da seleção penta campeã, temos um par, com a mesma origem mas com pequenas diferenças: Merda e Bosta. Mais que o nome do que bóia no Tietê ou gruda no seu sapato, ambas são utilizadas para expressar seu profundo descontentamento com algo.

Além dessa função, o par de ouro dos palavrões também tem outro propósito. Definir imbecis. E é aí que entram as nuances que só um brasileiro percebe. “Ah, ele é um merda!”. Repare. A pessoa que é um merda pode ser seu amigo. Existe um carinho nesse palavrão. O “Merda” é alguém que faz burradas (ou cagadas) às vezes. Pode ser um coitado, um pobre-diabo desastrado que se atrapalha e merece essas cinco letras.

“Nossa, ele é um BOSTA!”. Esse não. O “Bosta” é um mau-caráter. Sujo, vil, perverso. Está muito abaixo de quem é um Merda, pois buscou e fez por merecer este carimbo. Ele está entre o desgosto e o ódio, costurado com a linha do desprezo. Se você é um Merda, pelo menos com alguns banhos o cheiro sai.

Um belo palavrão é como o amor. É preciso saber usá-lo. Dosar, ter parcimônia para na hora que ele chega, aproveitá-lo com a intensidade que o juiz que marcou pênalti contra seu time merece.

Bom. Por aqui encerro esta reflexão. Tá frio pra caralho e eu estou com um sono da porra.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Fazendo as Unhas

















Tudo começou com uma olhada no espelho, que determinou o fim do cabelo.

O momento que a vaidade e o orgulho próprio são mandantes da degola a tesouradas dos fios de cabelo revolucionários, que se recusam a continuar compondo a diária procura de estar bem para o sexo oposto – ou você mesmo.

“Preciso cortar, tá foda.”. A hora do abate das madeixas é sempre sem volta. Quando essa decisão é tomada, a fome é por um lugar numa cadeira giratória com uma toalha de plástico que pouco adianta para evitar de te deixar pinicando o resto do dia.

E juntando a fome com a vontade de comer, saí no glamouroso horário de almoço da Vila Olímpia a procura de um lugar para saciar meus roncos de vaidade.

Fachada nova, recepcionista nova. Ao invés de Neide, Neusa, ou alguma variante do “Nê”, fui recebido por uma plumosa e colorida Drag Queen.

- Opa... Mudou o nome daqui?
- Mudou, querido!

O novo lugar prestava homenagem à Santíssima Trindade Musical Gay. Sentada a direita de Madonna, toda poderosa, está Rosana, com seu one hit wonder “Como uma Deusa”. E logo ao lado, a atriz e semi-travesti Cher, que emprestou o seu nome ao salão.

E é no “Salão Cher” que entram as unhas.

Nada de cabelos pelo chão, ou mulheres lado a lado com um abajour na cabeça fofocando sobre a inédita novela que acaba em casamento e é gravada no Leblon. Mas manicures. Muitas, milhares! Um batalhão delas perfiladas em suas cadeiras, lixando, pintando, esmaltando unhas de mãos e pés com separadores de madeira entre os dedos.

Um cabelo cresce, perde o corte, entra na orelha. Mas e uma unha? Unhas sujam, emprestam faixas brancas às pontas dos dedos. Mas mulheres tratam elas com o mesmo cuidado que tem com suas madeixas, com a diferença que são cuidadas semanalmente, por algo em torno de 15 reais.

Se não tiver roxo esverdeada, comprida e cheia de terra ou em carne-viva de tão roída, homens simplesmente não reparam. Melhor: não se importam.

“Eu me visto para as mulheres e me dispo para os homens”, diz a citação.

Vale quase o mesmo para as unhas femininas. Uma unha de esmalte na cor certa e uma cutícula na medida é como a lojas Marisa: de mulher para mulher. Ela completa sua beleza, mesmo que só para ela (ou elas). Um item essencial para completar uma bela roupa, para uma bela ocasião. Não existe vestido de festa chique sem unha feita antes.

Por isso, sua grande contribuição para agradar o sexo oposto está na auto-estima, no se sentir bonita, gouxtosa. A metade da receita para a irresistibilidade de uma mulher charmosa.

Homens tem poucos recursos para ficarem bonitos além do que sua mãe ou a mãe natureza lhe deram. A roupa certa, a barba, o cabelo, compondo um certo estilo. Do que os olhos vêem, limita-se a isso. O resto é combinado com seu papo, seus gostos e os demais itens de personalidade que compõe o mojo para aquela que lhe dedica algum suspiro.

Mulheres tem superfícies de pias e armários abarrotados de truques e alternativas. Decotes, estojos de maquiagem, diferenciados cortes e tratamentos de cabelo, vestidos tomara-que-caia, saias... e unhas.

Belas, reluzentes, esmaltadas e lindíssimas unhas.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Ela Não Falou Com "!"




















Aron diz:
e ela falou q sim! q me mandaria msgs amanha!
Aron diz:
krAi...

Fuba diz:

ah entao relaxa cara
Fuba diz:
esse tipo de ansiedade é normal

Aron diz:

mas nao falou com "!"
Aron diz:
AHHauahuahua
Aron diz:
eh eu sei
Aron diz:
eh q gostei do beijo dela


São de diálogos assim, como o que acabei de ter com esse grande amigo com quem vos copio e colo, que vivem os recém-flechados pela paixão. A ansiedade de quem acabou de dar o primeiro passo para um futuro incerto como o pedido no almoço terça que vem.

Um pequeno beijo para um homem, um grande encontro entre lábios que pode ser o primeiro de muitos.

Ou não. Tudo que o primeiro beijo conclui, entre meses, semanas ou mesmo minutos de xavecos e trocas de olhares dá lugar ao inicio de um novo ciclo, repleto de expectativas. E normalmente começa nos dias que seguem o feliz momento do gol, de celular na mão, teclando e re-teclando um simplório SMS que diz “gostei de ontem, viu” da maneira mais cool e blasé possível.

A satisfação e alegria de ter tido o seu interesse selado com saliva e selinhos como “mútuo” dá lugar a um turbilhão de expectativas. Casos antigos vem a tona, com os erros cometidos passando como um filme da “Sessão das Ex”. E nessa hora, entra em campo a busca pelo mais difícil dos equilíbrios, dono de dois pontos extremos: demonstra o que sente, e ganha a textura de um pentelho grudento ou limita-se a falta de ação e congela-se num grande bloco de mané?

O grande problema é que o quanto uma paixão encanta e provoca deliciosos devaneios sorridentes, ela nos cega do bom juízo. Não existe apaixonado blasé e cool em suas mensagens de texto. Esse tipo não passa de um admirável John ou Zé Mayer em carne e osso. O original se atrapalha, digita errado e verifica a cada dezena de minuto se seu catastrófico SMS teve resposta.

Numa paixão, a alegria do coração é a ruína do cérebro. Pensa-se em tudo, analisa-se demais todo e qualquer sinal de interesse ou rejeição, sempre com o pé atrás da bagagem dos fracassos amorosos antigos.

- “A amiga foi muito simpática, isso é bom! Não é?”
- “Se despediu no e-mail com ‘bjs’ e não ‘beijos’”
- “Ela não falou com ‘!’”

“Deixa rolar, deixa fluir. Seja você mesmo, é como melhor funciona”. O conselho que te faz querer voar por cima da mesa e sacudir o pescoço do seu amigo, gritando: “É por que não é com você, seu puto!!”, infelizmente é bastante verdadeiro.

O melhor a ser feito é esquecer suas aulas de semiótica e não tentar interpretar tudo que chega aos seus olhos e ouvidos, atendo-se somente ao que é óbvio e claro, como um “É mesmo, lá deve ser ótimo”. As chances de encontrar algo de realmente válido naquelas mil hipóteses que você cogita por segundo não valem o estresse que você passa procurando por elas.

É preciso lembrar é que, se a flecha for de duas pontas, a ansiedade de um lado repete-se no outro. Logo, não vai ser uma exclamação a mais ou a menos que vai fadar o seu insucesso. Se ambos estão interessados e gostaram do que viram bem de perto, basta a intenção. Basta que a mensagem chegue.

Aron diz:
Ela é demais meu merda! To gamadaumm... hihi! hahahaha

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Dá um Caldo













É recorrente no universo masculino, principalmente em bate-papos regados a café, água, suco, chopp ou ar, conversar sobre a gostosura da mulherada alheia. E assim como um frango de granja, nada delas deixam de ir à mesa. Comenta-se sobre tudo: a bunda arrebitada, o peito que o decote emoldura, o pescoço que incita farejadas a queima roupa, narizes, coxas, dedos, bocas… Nada escapa do aguçado olhar masculino e sua descrição engolindo salivas.

É bobo, superficial, é machista. Mas não existe ocupação mais divertida e bacana do que comentar com os coleguinhas as curvas que desfilam caminhando em linha reta. Homens são seres visuais, está no DNA, no instinto. E para nós, assim como o fotojornalismo premiado, uma imagem diz – e anima - muita coisa. Vide os primeiros exemplares de Playboy comprados aos 13 e escondidos embaixo do armário da pia (e que no meu caso, tiveram um triste fim quando a empregada decidiu lavar o banheiro).

Uma mera visão de uma barba por fazer e charme por conhecer caminhando pela rua é muito pouco para uma mulher. Não que desgoste de olhar, mas não excita nada além de algumas breves olhadas imperceptíveis à sensibilidade masculina. Para elas, melhor que ver, é sentir. Como bem já cantou Marisa Monte, bom mesmo é um corpo pesando sob o seu.

Podem até ter razão, mas para nós na maioria dos casos, basta um peitão. Para cada corpo feminino analisado existe um quase infinito leque de linguajares e termos técnicos, de conhecimento de qualquer um que vê muita graça em cenas de beijos lésbicos. Cavala, mignon, camarão, gordelícia, creme… São muitos os nomes que carimbam e dão os acordes dos corpos de violão (ou violão-celo) que fazem seus shows por aí. Mas entre todos eles, o mais interessante só podia derivar do melhor dos adjetivos ao tipo físico: o elogioso “gostosa!”, ainda melhor quando dito com X e a boca cheia.

“Gouxxtosa!”. O que um americano descreveria com um simplório “oh man… she´s so hot”, pro brasileiro tem o charme de um sambinha bem feito. Saboreamos nossas musas como quem fecha os olhos como uma garfada de feijão temperado. Um prato bem feito provoca um apetite muito parecido com o daquela maravilhosa que arrasta olhares. Por isso, o gostosa.

E quando ela não é tamanha beldade? É gostosa sim, merece as sete letras. Mas não por completo. Tudo no lugar, menos alguma coisa. Um olho meio de mal com o outro, uma bunda que levaram e nunca mais devolveram, um sorriso cujas gengivas são maiores que os dentes pequeninos. Para definir essa misteriosa e tão pessoal figura, novamente nos apropriamos de mais um termo culinário.

- E a Florinda hein Jair, que se acha?

- Ah cara… Ela dá um caldo.

Muito longe do retangular e insosso caldo Knorr, na culinária o caldo tem papel fundamental para dar o sabor que faz comer embaixo da mesa. O caldo é a esperteza do chef de mão cheia. Aproveita o suco, o resumo, o que derreteu do cozimento da carne ou frango entre azeite, cebolas e outras delícias de cheiro bom para os próximos pratos.

A mulher “que dá um caldo” tem algum defeito que não agrada o paladar comum, mas tem a sua gostosura própria. Algo inexplicável, aproveitável, que queria ou não, tem o seu vapor – ou valor - quando se abre a tampa.

O fato é que a mulher que se namora e o prato que se escolhe dependem igualmente da sensação que se passa quando em contato com a língua. O que existe de intragável em uma azeitona para um, é o toque indispensável para a empadinha de outro.

Já o caldo é uma escolha unânime da roda de conversa gastronômica. Um consenso entre todos que o objeto de análise tem sim o seu valor, dá o seu caldo suculento e saboroso que combina com todo um cardápio.

O caldo pode não ser o prato principal, mas rende por muitos jantares.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Diálogo de Amídalas










De saída de uma sessão das 9 e meia de segunda, dois amigos batem a porta e seguem para casa no ronco de um motor 1.0. No banco do carona, Ari tenta fazer um comentário sobre as curvas da atriz principal, mas acaba mudando de assunto por engolir sua saliva com uma careta.

- Nossa, minha garganta tá zuada demais. Minhas amídalas tão com pus até, cara.

Logo depois de engatar a terceira marcha, o amigo e motorista responde com um sorriso na voz.

- Pensa pelo lado bom cara... podiam ser seus testículos.

- É... Tem razão. – ri de leve, sacudindo os ombros - é bom ter um amigo para mostrar o lado bom das coisas.

- Pois é, você é um rapaz de sorte.

O carro acelera e atravessa o sinal amarelo quase subindo para o vermelho - que para a imensa maioria dos paulistanos ainda é verde. Pablo, o motorista e piadista, olha para a noite pela janela abaixada e recebe a brisa e o cheiro de 11 da noite no rosto.

- Que noite boa pra tomar uma brejinha... Você fecha?

- Nao cara, com essa garganta.. Não dá. Se eu quiser te acompanho.

- Ah sussa, então desencana. – Pablo boceja, substituindo a vontade de entornar um copo americano por deitar sua cabeça num travesseiro. E abrindo a boca com um meio sorriso, continua:

– Mas que a noite tá boa, tá... Se você fosse uma mina ia te levar pra casa, embebedar e tentar te comer.

Ari rebate à altura:

- Cara, se eu fosse mina você ia me levar pra minha casa. E só.

- É, e provavelmente gastar muito mais.

E rindo, o 1.0 segue seu caminho pela avenida Brasil.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Horário




















Diz o ditado: “cabeça vazia é a oficina do Diabo”. Do Capeta. Do Coisa-Ruim. Do Exu-Caveira.

Muito mais que um playground do José Sarney, essa frase resume perfeitamente o fértil terreno que uma cachola vazia proporciona aos que se renderam ao marasmo de uma tarde.

E hoje, faço um breve workshop.

Pela primeira vez em muitos anos cheguei ao dia de ser uma segunda-feira e eu simplesmente não ter o que fazer. Não abri o vidro do carro para receber o Metro na esquina da Santo Amaro. Não fiz fila no quilo com um prato recém saído da máquina de lavar na mão e muito menos comemorei que era segunda, dia de comida árabe.

Estou no interior paulista, com os dedos postos no mesmo ruidoso computador de mesa que tantos slides sobre citoplasmas fez. Uma casa que há mais de quatro anos eu só conhecia por finais de semana, hoje mais uma vez, me mostrou sua rotina. Lá fora, o perdigueiro companheiro dorme ao sol. Vindo da cozinha, o som de locomotiva da panela de pressão e o cheiro de refoga quase borbulhando esperando por grãos de arroz.

A sensação é que logo visto meu uniforme amarelo ovo, minha mochila verde herdada do primogênito e sigo para a escola, rumo a minha apresentação sobre células na aula de biologia.

O fato é que desde o primeiro berreiro aberto neste mundo, o horário sempre nos acompanha. Seja ele imposto pelo leite materno ou pela reunião das 10 e meia, lá está ele. Chame-o de Compromisso, Hora Marcada ou Sessão das Sete, é ele quem apressa suas ensaboadas no chuveiro e toma seu café no elevador.

Nossa relação com o Horário é a clássica relação de mulher de malandro. A gente sofre, reclama, aparece com o olho roxo das noites mal dormidas, mas quando ele desaparece sentimos o peso de sua ausência, o seu cheiro dentro de um livro nas cinzas das horas.

Sem hora marcada nos sentimos incompletos, sem estímulos, presos somente a nossa própria Força de Vontade. E muitas vezes, ela não é páreo justo para a Preguiça. Somente o Horário, como o irmão mais velho que salva do valentão no recreio, encara a Preguiça apontando dois ponteiros para o seu rosto.

Como todo ingrediente que marca presença nesse sopão agridoce chamado Vida, o Horário pode se manifestar tanto em apitos matinais de despertadores quanto reservas em restaurantes, sessões de cinema e tudo mais que, prazerosamente, fazem o tempo passar mais rápido.

Aliás, que horas são?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Mensagem - de texto - pra você




















Era um lindo sábado de céu azul da cor do mar, mesmo estando a algumas centenas de quilômetros longe da praia. Era um azul vivo, desses que ao mesmo animam e acalmam, refletido numa grande e retangular piscina de água cristalina.

Na beira do domingo e da piscina do clube as irmãs e melhores amigas Rosana e Silvinha tomavam tranquilamente suas bebidas e papeavam sobre a nova namorada do primogênito de uma, entre uma folheada e outra de Caras.

Ambas à vontade como o que vestiam: um biquíni discreto, com a canga enrolada na cintura. Na cabeça, um chapéu de palha macia, com o adereço de um pano rosa claro envolto com um nó logo em cima da aba.

Cinquentonas, realizadas, mães de meninos com mais de um quarto de século completo e casadas há mais de 30.

A manhã era mansa, calma como os domingos foram criados para ser. Até um celular apitar.

Homem de poucas palavras e espesso bigode, o engenheiro de tráfego Amadeu aproximou-se por trás de sua digníssima senhora e companheira. Pouco antes dela se virar, tascou um beijo entre sua nuca e boca, logo onde desenha o rosto. Antes que ela pudesse por em palavras sua surpresa, Amadeu respondeu com ternura:

- Eu também. – E sorriu, esticando as franjinhas de seu bigode.

- Eu também o que, Má? – Respondeu Rosana, entre curiosa e carinhosa.

- Eu também… Recebi sua mensagem no celular. Eu também. - E sorriu de volta, ainda enternecido.

- Que mensagem? Eu nem sei mandar mensagem direito Amadeu.

- A mensagem, Rosana. “Má, te amo muuuuito”.

- QUE MENSAGEM? – o que antes era carinho transformou-se em um raivosa curiosidade.

Do repentino beijo do cunhado ao “que mensagem?”, Silvinha foi instintivamente entrando aos poucos debaixo da mesa, que já passava da altura do seu umbigo.

Amadeu ficou perplexo. Se sentindo culpado mesmo sem ter culpa.

- Não foi você?

- Não! Claro que não né! Deixa eu ver esse troço – Rosana começou a ficar impaciente.

- Ma-mas você escreveu “Má”!

- EU SEI. Quem mais te chama de Má, Amadeu? Só eu. – Caixas altas não expressam a ira contida que começou a tomar conta do seu rosto.

- Você só, ué!

- Vou ligar. – tentou mexer no aparelho por alguns segundos, bufando a cada tecla aperta. – Que droga! Como que faz pra ligar pra esse número?

- Mas pode ser engano, Rô. Só pode ser! Marcelo, Mauro, Marcos, Marcondes… São muitos “Más” por aí! – Enquanto falava, a papada de Amadeu balançava freneticamente em sua defesa.

Silivinha, sabendo do ciúmes que conhecia desde os tempos na casa de bonecas, e na tentativa de ajudar o seu cunha, interveio:

- Além de Marcelas, Marianas, Marias… Mandaram errado, acontece. Eu já li-

Rosana já cortou.

- E pode ser Amadeu! Vou ligar.

E ligou. Segundos foram estendidos para horas a cada longo toque de chamada.

- Alôquemfala? – Disse assim mesmo, sem vírgulas e pausas. – Roberto? Escuta Roberto, você namora alguma Maria? Por que você mandou uma mensagem pra lá de melosa para o meu marido.

Silvinha e Amadeu se entreolharam, apreensivos. Rosana continou:

- Pois você olhe bem nos olhos da Márcia e fala “eu te amo” com todo seu coração. Por que além de muito mais bonito, você não se declara pro marido dos outros!

Apertou o botão “end” com força, e desligou. Mexeu sua caipirinha com o misturador de plástico, e sorriu amarelo. Rindo. Ambos riram na mesma cor.

Resolvida questão, Amadeu se despediu das duas e voltou para sala de sinuca do clube, só parando para mexer no celular e mandar uma única mensagem:

“Beto, você é muito burro. Mas eu te amo muuuuuuito!”

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Almir e o Acaso





















Amigos em comum, mesma faculdade, o filtro de água do escritório… Isso é coisa para o divórcio em 2 anos, da viagem pra Monte Verde para comer foundie e voltar de pochete. Não o eufemismo para pança, aquela bolsinha mesmo, que vai amarrada na cintura tintilhando moedas e uma capa de chuva amarela e bem dobrada.

- Bons casais começam no inesperado, cara!

Era o que dizia Almir, "o conquistador do improviso", título merecido após conhecer uma namorada colocando rapidamente o seu pé embaixo da roda de um 4×4 em movimento.

Almir acreditava piamente no Acaso e nas mais certeiras flechadas do cupido. Na trombada que espalha papéis antes da reunião e cruza o olhar ao levantar do chão. Da catraca de ônibus que roleta a garota mais bonita que ele viu na vida, e a faz sentar bem ao seu lado.

Mas como nem sempre o Acaso está para presenteá-lo com estes regalos da paixão a primeira vista, Almir criava suas próprias oportunidades.

A noite de Almir não começava com “oi tudo bem” ou “qual o seu nome?”. Não senhor. Se não derrubasse uma bebida numa dama de vestido branco ou engasgasse com a azeitona de um martini comprado a par, nada feito. E grande parte das vezes ele voltava só, frustrado por seu insucesso e com o fato da madrugada não proporcionar sinais vermelhos para emparelhar seu carro com outro, de outra.

Almir era o Rei do Auto-Serviço, como ele mesmo gostava de se coroar. Farmácias, supermercados, padarias… Incontáveis vezes se pegou olhando embalagens de absorventes enquanto observava uma garota passar com sua cestinha de plástico azulado. Olhares entre gôndolas, comentários sobre a diferença entre o italiano e o hamburguês, sugestões refinadas de produtos na sessão de Limpeza:

- Leve este Pinho Sol, é formidável. Faz o mesmo trabalho que o Sapólio, não resseca a mão e dá muito mais brilho.

No trabalho Almir era fechado. Limitava-se ao seu ofício e a pensar nas infinitas possibilidades de encontros inusitados que as esquinas da vida proporcionavam. Ela poderia estar ali, em um muro com as mãos na cabeça durante uma blitz policial, num elevador que parasse entre andares por dias, em tudo que o Acaso - primo-irmão do Destino – colocasse no seu caminho com uma flecha no peito.

Enquanto ele suspirava, flechada ou não, na baia ao lado a míope e simpática Vânia via muita graça naquele rapaz engraçado que pouco falava. Juntos iriam rir muito, fazer viagens, dividir planos e discussões calorosas como as noites regadas a vinho.

Iriam, pois para Almir, tudo isso só aconteceria se num voo eles sentassem nas poltronas 27 A e 27 B, abrindo o mesmo livro ao longo da viagem. Se batessem o carro e trocassem telefones para acionar sinistros na hora do rush. Ou, quem sabe, se o avião caísse com os dois numa ilha deserta?

domingo, 26 de julho de 2009

O Amor em Banda Larga













“É hoje!”, pensa Carlinhos esfregando as mãos mentalmente, uma vez que seus dedos estão todos postos no teclado. Já é noite na sua casa, e todos da sua família dormem o pesado sono de um dia pegando no batente.

Final do dia para uns, começo de uma promissora noite para outros. A linha está livre. Como Angus MacGaiver a escolher entre o fio azul ou vermelho, Carlinhos se acocora atrás do computador de mesa. Com cuidado e frieza, despluga o fio transparente de ponta cúbica do telefone, e o encaixa no modem do computador. Em cliques ansiosos, ele ordena que seu Windows 98 o conecte à internet.

Começa a contagem regressiva para o mundo da sedução. Ruído, chiado, barulhos, expectiva. Pimba! Online na rede mundial de computadores.

São poucos os que de fato escutaram uma buzina como essa pessoalmente. Contudo, para adolescentes como ele, não há nada mais familiar que esse barulho. Um longo e sonoro “PUOOOOON”.

De chegada no seu porto, um enorme navio carregado de expectativas.

O encontro já estava marcado, 11 da noite. Lá estava ela, enperiquitada com emoticons no nickname, a espera do primeiro contato. E para Dani, Carlinhos ofereceria o mundo e uma flor verde-limão, dando um oi com barulhinho engraçado.

Passaram-se 10 anos, algumas horas assinalando questões múltipla escolha com grafite tremido, um dia de cabeça raspada e tinta guache pelo corpo, muitas festas, choros e risadas. E hoje, Carlos todo dia das 9 a um 8 deitado, está online com o rosto iluminado por um monitor. E o que antes era mais uma ferramenta para combinar a ida à sessão das 8 de Titanic, hoje é simplesmente sua vida. A nossa vida.

Surfar na web era um esporte praticado por Carlinhos e seus amigos. A internet se tornou o ar que respiramos, em todos os planos e para fazer nossos planos. Hoje, muito além de pagar uma conta sem sair de casa ou despachar trabalho com um clique no outlook, as nossas relações pessoais dependem, mesmo que não integralmente, do auxílio da rede mundial de computadores. Nesse final dos anos 00 e além, somos internautas de escafandro complemente submersos nesse vasto oceano chamado web.

A prova disso está numa disciplina que até virou ganha pão. As redes sociais. Sites de relacionamento que tornaram-se gigantescos cardápios online. Afinal, que não é um Orkut ou Facebook senão uma uma página com frases de efeito e fotos selecionadas para um menu com barra de rolagem? Cada moldura clicável é como um prato: “Delicioso advogado de 26 anos, feito a partir de uma boa família de São Paulo, refogado com hábitos esportistas e baladadeiros, com um tempero de bom humor.”

Mesmo com as vastas possibilidades de ter extensões online da sua imagem para o sexo oposto, a essência das relações humanas é a mesma desde o tempo dos avatares em pinturas rupestres. Afinal, atrás do azulado do monitor existe alguém de carne, osso e ansioso, a espera da resposta de seu scrap ou do piscar alaranjado de um MSN com a mesma expectativa que Judite esperava por cartas de seu amado Bartolomeu. Hoje, só é tudo mais rápido e com mais recursos para contato do que um recado ou um telefonema rezando para que o possível sogro não atenda.

Com a internet e suas ferramentas, jovens enamorados se encontram e dançam o jogo da sedução de diversas maneiras. Se Carlinhos hoje decidesse reencontrar Dani pelas esquinas da vida, entraria na comunidade “Ex-alunos Colégio São Clemente”, descobriria se namorava e por onde andava, adicionaria no MSN, mostrando que seguia seu Twitter por recomendar seu post no garotasdepatins.blogspot ou o último vídeo engraçado do Youtube.

Para pedir risoto e meia garrafa de vinho com Daniela ao outro lado da mesa, Carlos acessou e usou cinco ferramentas diferentes, fora as mensagens de texto tecladas em momentos de inspiração alcoólica.

E todas elas conversam e convergem entre links e entre si, para o grande momento. A hora de mostrar-se olho no olho (não existe webcam) ser tão interessante quanto o perfil de quatro linhas ou engraçado quanto o tweet sobre o que aconteceu com ele numa terça de manhã. Nessa hora, ao som do tintilhar de pratos e música ambiente, não existe tempo de resposta cronometrado pelo pueril “C@rlos está digitando uma mensagem”. São instantes que a banda The Carlos precisa mostrar ser tão boa ao vivo quanto o trabalhado CD de estúdio.

A internet hoje é um claro reflexo da nossa geração: imediata, sem tempos para loadings e barulhos antecedendo a conexão. Queremos tudo, e agora. Acontece que não importa o que você tecla ou o endereço que escreve depois de 3 dáblios. Não é online que se roçam pés gelados entre cobertores.