quarta-feira, 24 de março de 2010

Antes da Curva










Certa vez um amigo escreveu que esses 20 e poucos anos são como se você estivesse num carro.

“Um carro, que rodou entre destinos específicos por toda sua existência automobilística. Levou crianças para o ginásio, jovenzinhos para o colegial, guiou rapazes para faculdade. E agora ele pegou seu primeiro acesso para a rodovia. Uma estrada aberta, plana, com um misterioso horizonte para alcançar e com mais cobranças que os pedágios da Bandeirantes. E quem dirige é você.”

Pois olha lá eu na minha caranga, os vidros abertos, o cotovelo esquerdo tomando vento, os óculos escuros emprestando o intrigante mistério de não saber direito para onde meus olhos focam. A minha frente, o mesmo horizonte de expectativas. Tudo certo pelo incerto.

O sentimento do princípio de aventura quando se tem um diploma na mão ainda é o mesmo, mas com algumas diferenças. Agora, existe a consciência de que todo carro precisa ser abastecido com responsabilidades.

Para seguir viagem o tanque precisa ser completado com vida adulta, aditivada.

Se antes o receio era pelo incerto, hoje é pelo medo de ficar por um desses Postos e nunca mais sair. De se deixar vencer pela comodidade da rotina, esquecendo que o real propósito é chegar a um destino que recompense as noites dormidas planejando a viagem. Deixar o necessário crescimento profissional e os dias de sol dos finais de semana – sim, até ele - tomar o foco de pelo menos tentar realizar o que você acha que seria bem legal se acontecesse.

Anseio de encostar num munícipio à beira da estrada e nunca chegar na cidade que deseja. Mesmo sem ter certeza qual delas é.

E agora, enquanto o carro acelera e os olhos de gato passam zunindo pelo chão, uma curva surge no horizonte e aparece claramente no mapa e nos portas-retratos da família.

Amigos que se casam, primos que fazem filhos. Que assumem a responsabilidade de uma família. E deixam uma pergunta. Será que depois dessa curva muda-se o meu trajeto? Melhor: será que ela faz parte do meu plano de viagem? O fato é que ainda tem tempo para esta curva dobrar pelo meu caminho. Mas uma coisa é certeza: seja quão acentuada ela for, daqui a pouco ela chega para mim.

A verdade é que não sei para onde sigo. Não existe voz artificial de GPS para dizer o caminho. Aliás, até perderia a graça da aventura. O jeito é manter as mãos no volante e continuar seguindo, com o porta-mala carregado da bagagem de anos bem vividos.

Sempre focado no trajeto planejado, aproveitando as belas paisagens e encarando os percalços dessa viagem da forma mais leve possível, mesmo de tanque cheio.

domingo, 7 de março de 2010

Gordelícia




















Isso mesmo, você leu o título. Ela é gordinha. E ela é uma delícia.

Ao contrário do estigma que as mulheres rotulam, não é só de bundas e peitões dignos de uma assistente de palco que vive o desejo e a libido masculina. Ali, entre as fantasias de loiras curvilíneas e morenas de corpos que tocam bossa nova, existe uma mulher que enche a cama, que tem carne para apertar, que tem um recheio digno de ser esmagado entre rodelas de chocolate e ser empacotado para vender como Negresco.

A gordelícia. Prima da mulher que dá um caldo, mas com uma pitada de pimenta e por que não - um tenro pedacinho de bacon.

Uma gordelícia não é simplesmente uma mulher com alguns quilinhos a mais. Nelas, as famosas “alças do amor” abrem portas para um sexo tão fogoso que assa carnes e peixes na churrasqueira. Melhor que isso, elas tem a explosiva combinação entre horny e carinhosas. E homens percebem - e valorizam - essa charmosa dinamite.

A história prova seu lugar de destaque. Expressada na arte e na música, o gosto pelas gordelícias inspira muitos.

Bon Scott, falecido vocalista do ACDC, após uma noite de tórrido romance escreveu “Whole Lotta Rosie”, uma verdadeira ode Rock N’ Roll às gordelícias. O colombiano Fernando Botero pincelou seu lugar entre os grandes pintando e esculpindo gordelícias com as mãos que com toda certeza já contornaram as mais belas formas. Até num plano municipal, a bela cidade de Americana, no interior paulista, decidiu receber seus visitantes com um portal que é uma clara homenagem a este belo estipe mulheril.

Deixemos para lá o debate sobre o padrão de beleza atual, que cultua um corpo que substituí as delícias da boa mesa por alface, e se der, uns cubinhos de torrada. Entremos no nosso DeLorean e voltemos muitos anos no passado.

Os quadros não mentem: antigamente as gordelícias eram o padrão de beleza. Comer bem e bastante era para nobres, para os inquilinos originais do Castelo de Caras. Quem morava mal e longe era magro, e até esculpido pelo árduo trabalho no campo. Provável dono de uma barriga tanquinho que roncava com frequência.

Hoje, num mundo que (pelo menos nas grandes cidades) todos tem acesso a pelo menos um prato de comida, o que é bonito é a falta de peso. Comer alimentos orgânicos, lanches de pão integral com queijo branco, sucos de 3 frutas com uma pitada noz moscada, que você sabe, é cheio de vitamina A.

Segue a mesma lógica de antigamente, mas de forma inversa. Os ricos e famosos que renovam seus votos de amor no Castelo investem para contratar um personal trainer e uma equipe de nutricionistas para ficar bem na foto.

Mas aí, quando o mundo conspira para incitar-nos a procurar o que está estampado nas revistas ou dançando ao fundo do Programa do Faustão, quando a marca do meu desodorante lança uma campanha pela “real beleza”, lá vem elas, as gordelícias, e acabam com toda necessidade de argumentação.

A atração por gordelícias está na sua autencidade, no uso do inconfundível charme feminino a seu favor, em mostrar que uma mulher gostosa vai muito além de um padrão de medidas para bundas, coxas e peitos.

Elas são provas vivas e levemente rechonchudas de como o charme feminino permite a adição de “delícias” para todo tipo físico.

Afinal, ela é uma mulher. E é uma delícia.