quarta-feira, 8 de junho de 2011

Primeiro Encontro


E lá estava Renato. Sentado na mesa de toalha quadriculada em branco e vermelho. Beberica uma taça de vinho, de olho na porta de molduras paralelas de vidro. Batuca sua ansiedade no crostini que repousa na cestinha a sua frente, usando sticks de pão como baquetas.

Já se passaram trinta minutos desde o combinado.

Com o sininho preso ao batente, Letícia entra. Ele levanta com um meio sorriso, cumprimentando com um beijo estalado na bochecha.

- Oi… Começou bem, hein? Você se atrasou para cacete.

- Desculpa, eu não sabia que roupa usar…

Silêncio. Constrangimento mútuo. Ela continua, não contendo a empolgação:

- Também, depois da farra que foi minha viagem no feriado, todas as roupas boas estão lavando. Ai foi essa velha mesmo.

E sem perder a compostura, ele responde de bate-pronto.

- Puxa, fico feliz com sua preocupação.

- Ah, na boa. Primeiro encontro às cegas é complicado. Quando perguntei para a Marininha como você era, ela respondeu “ah, muito gente boa”. Achei que não valia muito o esforço.

Renato arqueou as sobrancelhas. E a olhando de cima para baixo, sentenciou.

- É, confesso que também esperava mais de você.

- Que bom que concordamos com isso.

O garçom se aproxima do casal.

- Aceita vinho, senhorita?

- Sim, claro.

E com um sorriso irônico, ela completa:

- Um brinde à sinceridade.

- Um brinde!

Seguido do tim tim, o silêncio. Chegou a hora de falar algo legal, para quebrar o gelo. Só foi patada até agora. Renato pensa em um elogio antes de pensar um prato.

Então, com seu mais simpático sorriso, Letícia arrisca:

- E que lugarzinho hein? Só falta você tirar do bolso um vale de site de Compras Coletivas.

- Quem dera se tivesse um desses. Pelo menos economizaria e a noite não estaria perdida. Bom, pelo menos acertei em não olhar a gaveta e colocar minha boa e velha Zorba clássica, dessas com um bolsinho mucho na frente.

- Ah, você também? Se você visse o estou usando… É de um caramelo claro, total terceira idade. Parece que roubei um coador de café que por algum motivo estava pendurado num box de plástico fumê.

Renato não se deixa impressionar. E responde de imediato:

- Isso eu imaginava mesmo. Não quero nem pensar na mata atlântica que esse coador esconde.

- Mata atlântica não por que ela já foi bem devastada, tadinha. Está mais para Amazônia mesmo. Normalmente faço isso para me segurar e não dar logo de cara. Mas com o promissor cenário de você ser exclusivamente “muito gente boa” vi que não valia a sessão de tortura.

- Bom, não adiantou muito. Acabamos trocando uma sessão de tortura por outra. Vale até mais um brinde.

- Claro que vale!

E com a segunda edição do tim tim, Letícia só pensa em uma coisa:

“Que surpresa boa. Ele bem que podia me chamar para sair de novo. Nunca vi homem mais charmoso…”

Renato observa ela enrolar o talharim no garfo, deixando o narrador da sua vida falar por ele.

“Caramba… Com esse jeitinho arisca não tem calcinha de vó no mundo que atrapalhe. Ela é uma graça.”

Acabaram por comer suas massas e pagarem a conta, acertando em comum acordo que Zorra Total era bem mais interessante que aquele jantar.

Afinal, isso não é coisa que se fala num primeiro encontro, não é mesmo?

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