quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Diálogo de Elevador

















Dois amigos e colegas de trabalho chegam segunda cedo para mais uma semana de árduo trabalho e digestão (quarta-feira é o dia que andam um pouco mais para comer a fejoada do “14,90, à vontade”).

Ele, fã de bacon e lanches de padoca. O outro ele, fã de restaurantes que seu Visa Vale gasto por happy hours suporta até o fim do mês. Em comum, a vontade universal proletária de um aumento e um dia sem grandes estresses e a necessidade de jantar pizza na conta do chefe.

Enquanto os elevadores descem em contagem regressiva do 10 ao T, uma presença consegue a proeza de passar com elegância entre as catracas, estacando em frente ao elevador e mostrando seu perfumado (e extremamente beijável) pescoço, enquanto acompanha a descida dos caxotes metálicos içados por cabos de aço.

Com malícia nos olhos, é feita a pergunta que começa todas as semanas:

- Fala cara, como foi de fim de semana?

Mas o magnetismo da gostosura, de tão perto, tão ao alcance, desconcentra os pobres – e infantilmente felizes - trabalhadores.

- Foi ótimo cara. Viajei com a família. Hotel-fazenda. Bem tranquilo. Mas bem legal.

Falou tudo isso de olhos arregalados por uma hipnose, acompanhando os belos contornos que perfilavam ao seu lado. Se tentasse repetir que acabou de dizer não conseguiria balbuciar sequer uma palavra.

Com um meio sorriso, o garoto bacon responde com uma olhadela para as nádegas enrijecidas pelo salto alto.

- Puxa... Deve ter sido uma delícia!

Segurando o riso, o rapaz do Visa Vale responde à altura:

- Foi cara, foi muito bom. Comi demais, e bem! Deu vontade até de comer embaixo da mesa.

Mas o bacon boy é duro na queda. Sem tirar os olhos de sua musa, retruca.

- Aposto que nem aguentou comer tudo. Você sempre tem olho maior que a barriga.

Já entregando a risada pelo sorriso, Visa Vale tenta sua última cartada.

- Nada rapaz! A vontade era lamber o prato, de tão gostoso.

- Pô, que beleza. Fim de semana assim é sempre um tesão!

E rindo, os colegas bonachões sobem para mais um dia de trabalho. Longe de um aumento mas muito perto de pedir borda de catupiry na marguerita das dez da noite.

A gostosa ali fica, esperando o próximo elevador. Ao entrar e apertar o seu andar, tromba com uma colega de trabalho, que logo corta o silêncio do cubículo ascendente com uma pergunta:

- Oi amiga! Como foi seu final de semana?

E logo antes das portas metálicas juntarem-se em sincronia, a resposta:

- Ah, o de sempre. Broxante.

3 comentários:

Villa disse...

Oinc...Perfeito!

Roberto Kamei disse...

Delícia de texto... Parabéns, Fubá!

Birda disse...

Ae! Mto bom...Esse menino vai longe