segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Um Lugar Chamado Itaim Bibi









José Luis era um rapaz do bem. Como eu, você e seu vizinho que um dia emprestou o abridor que tornou possível o macarrão com sardinhas. De gostos simples e luxos pontuais, batalhando pela dura ascensão profissional e por boas risadas ao lado de boas companhias.

E aquela tarde de quinta-feira iria lhe trazer a mais inusitada delas.

- Ô seu surdo! Vai fazer o que hoje?

Assustado pela cutucada insistente no seu ombro, Zezé tira os fones do ouvido e olha para seu chefe sem compreender a pergunta.

- Tô com convite para essa festinha aqui, coisa boa. Não vou poder ir. Quer?

Sem muito tempo para processar a pergunta, Zé sem querer acaba olhando os dentes do cavalo dado.

- Ahhh... Onde é?

Um pouco impaciente, o superior lhe responde com o tom blasé que o lugar pedia, antecedendo sua resposta com um suspiro.

- É um VIP para aquela Secret Elephant Lounge, sabe? É nova, só vai gente famosa, bonita, do mercado.

Zezé sabia de nome. E preço. O point dos chiques e famosos de São Paulo devia ter um preço com o sabor do sal que acompanha as tequilas e margueritas servidas por lá.

Pensou em uma pista repleta de caras com camisas pólo justas, com cavalos gigantes estampados no peito. Talvez um casaquinho amarrado no pescoço pra completar o look. Por milésimos de segundo, ensaiou mentalmente uma recusa educada. Por outro lado, pensou em meninas de calças justas, maquiadas, com perfumes que convidavam a beijos no cangote e drinks com gosto de hortelã. E arrematou sua elucubração com um “Por que não?”

- Ahh sei cara. Animal! Pô, quero sim. Brigadão!

- Beleza. Depois me conta como foi então. Só não vai fazer que nem na festa de fim de ano daqui, hein?

E sai rindo de sua piadinha. Zezé não entendeu muito bem o motivo. Ou melhor: não lembrava.

Gel no cabelo, camisa de manga dobrada, Ford Ka devidamente abastecido, 60 reais em notas de dez na carteira: nosso herói estava pronto para sua noite em voo solo.

O lugar preenchia suas expectativas. Era exatamente como tinha pensado. Abarrotado de cavalos gigantes estampados em listras e lindas garotas em saias justas. Pelas mesinhas, luxo, requinte e garrafas de Veuve Clicquot suando em baldes prateados. Ao fundo, uma pista de dança carpetada com um lustre indicando o centro com sua luz brilhante e levemente amarelada.

Zezé deu uma volta de reconhecimento de território e partiu para o elegante bar, com um balcão de madeira escura e com uma bela prateleira ao fundo, expondo o valor do seu carro em finas bebidas alcoólicas.

- Um uísque, por favor.

A dose veio caprichada. O líquido, de um dourado quase alaranjado, prenchia o copo alto até a boca. O primeiro gole desceu macio, acompanhado do charmoso tintilhar dos cubos de gelo contra a borda de vidro. O que sucedeu em seguida foi uma contagem regressiva para a loucura. O tempo voou na velocidade dos seus dez pedidos de “amigo, vê mais um”.

A partir desse momento, sua noite foi pontuada por cenas em flashes de teletransporte.

Se viu na pista de dança, conversando com uma morena. Dançando. Rindo para a dona da boca que sorria e mordia o carnudo lábio inferior. Beijando um pescoço perfumado. Errando a mira no mictório. Dançando com um formoso quadril encaixado nos seus. Sendo fotografado. Pressionando a morena a uma coluna, exercitando seus lábios imitando o gracioso nadar de uma lula no fundo do mar.

E por fim, de mãos dadas. Entrando no banco de trás de um carro branco com motorista, que rasgou pela avenida em direção a um fade-out.

Acordou com as sequelas de um atropelamento: boca amarga, garganta seca, têmporas latejantes.

Abriu os olhos lentamente. Os riscos de luz que entravam pela fresta da persiana doíam sua cabeça. Estava sozinho, de cueca nas suas cobertas e abafado pelo alcool que seus poros evaporaram pelo quarto.

Fechou os olhos e dormiu de conchinha com sua ressaca até tarde de segunda.

Caminhou pelo corredor do escritório distribuindo seu “bom dia” habitual, com o atraso de rotina e o cabelo desgrenhado de sempre. Mas algo de estranho vinha pelas respostas aos seus cumprimentos. Algo de “quero muito te perguntar uma coisa”, de que tem algo para dizer além do bom dia recíproco.

De fato, alguma coisa repousava no teclado do seu computador. Por um triste instante, pensou se tratar de um pedido de trabalho. Se aproximou do computador com um resignado suspiro. Mas era uma revista, dessas de fofoca. Na capa, um casal aos beijos em uma pista escura. Na parte inferior, uma tira de 4 fotos do mesmo casal em diversos momentos de pura sedução, finalizando com uma foto dos dois caminhando para um táxi.

E por cima de tantas imagens, uma legenda em letras garrafais:

“Megan Fox, em São Paulo, flagrada em beijos quentes com affair brasileiro.”

Lentamente, Zezé tirou os olhos da revista que segurava com as duas mãos. Uma roda havia formado a sua volta, perplexa. Curiosa. Atônita.

A foto não mentia: o beijado da capa era ele.

José Luis. Um rapaz do bem. Como eu, você e aquele cara que saiu na capa de todas as revistas, sites e publicações possíveis, cujo celular vibrava no bolso um número meio estranho.

5 comentários:

Narrativa da Vida disse...

Nossa, excelente Fuba!

Faz uma marquinha nesse para você publicá-lo quando puder. Muito bom!

Fernando Castanho disse...

Com tantas semelhanças achei que se tratava de um conhecido meu o relato, até assustei com o final.. Muito bom Fuba. Abraços

Luciana disse...

adoreeei!! hauhsa

Parabenss!! :)

EduBarreto disse...

GO Fubim!! Belo causo desse tal de Zezé.

aron disse...

HAUhuaua mUTIO bom meu coco!!!
amei kra... cheio de frases fubim cheio de estilo, charmousas e goxtosas.
diliça de se ler...
parabens meu coconut!