terça-feira, 15 de outubro de 2013

O Arquivo


Washington DC. 20 de janeiro de 2009. No gabinete presidencial da Casa Branca, um ansioso recém-empossado mandatário da nação batuca na sua mesa de carvalho escurecido. Está ansioso. Pela primeira vez como presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama tem uma reunião marcada com o Secretário de Defesa.
Hora de conhecer os fatos obscuros que somente o presidente do país mais poderoso do mundo pode saber. O que raios tem naquela Área 51? Quem de fato matou Kennedy? O que realmente ocorreu na Crise dos Mísseis? O que aconteceu com o Ronaldinho na final de 98?
A porta se abre. O Secretário entra com passos firmes, carregando uma maleta rígida e de couro preto.
- Bom dia, senhor presidente.
O Secretário está impassível.
- Bom, vamos começar.
Apóia sua maleta no colo. Com um estalo, abre simultaneamente os fechos em cantos opostos. Tira de dentro um envelope pardo, fechado por um barbante enrolado. Não há sequer o carimbo vermelho de “Classified”. O arquivo não passa de um simples – e incendiário - envelope marrom claro.
Deita o envelope na envernizada madeira da mesa, levantando os olhos com uma pergunta implícita: “Tem certeza?”.
Barack Obama responde com a cabeça em um lento sinal positivo.
Cuidadosamente, o Secretário desenrola o fio preto que separa o Presidente dos fatos bombásticos que ele terá que levar para o túmulo.
Com os dedos em pinça, Barack Obama esgueira sua mão dentro do envelope. O conteúdo impressiona: é uma única folha de papel.
O presidente corre os olhos lentamente pelo revelador pedaço de sulfite.
Termina com um suspiro e uma expressão incrédula.
- É isso?
- Sim.
- “Torta de frango da Isa – Passo a Passo.”
- Isso mesmo, senhor.
- O que porra eu devo fazer com isso?
- Você já experimentou a torta de frango da Isa?
- Não.
- Então. Quando experimentar vai entender.
- É sério isso?
- Sim, muito sério.
- Já comi muitas tortas na vida. Adoro tortas. Você fez sua pegadinha, beleza. Mas agora é sério. Pare agora com essa palhaçada.
- Não é palhaçada, senhor.
A mesa sente o estrondo do soco de Obama contra sua superfície.
- Cadê os dossiês sobre ETs? Cadê o discurso pronto no caso de um apocalipse espacial? Cadê o míssil secreto que explode asteróides?
- Isso tudo você acha na Internet. A torta da Isa, não. Não existe nada como a torta da Isa.
O Secretário pausa para engolir sua saliva. E continua:
- Sério, ninguém faz igual no mundo. Você nunca na sua vida vai comer algo como essa torta, por mais que você procure. A massa é molhadinha. O recheio é temperado na medida. É uma explosão de sabor na sua boca.
Obama passa a palma das mãos no rosto, visivelmente irritado.
- Eu cheguei até aqui, fiz campanha, prometi mudança, virei web celebrity... Tudo para saber como fazer a torta de frango de uma brasileira de Barão Geraldo?
Alguém bate a porta. O Secretário autoriza.
- Pode entrar.
Um mordomo empurra um elegante carrinho de comida, com um garfo e um único prato coberto por uma tampa prateada.
- Puta que pariu. Eu pedi comida por acaso?
- Eu que pedi, senhor.
- O que é isso?
- A torta, senhor. A torta.


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